quinta-feira, 1 de maio de 2014

A história das “cervejas” leves (light lager) – Parte 3



Na segunda parte da sequência de textos sobre a estandardização das cervejas chegamos ao período da Lei Seca nos EUA, pela qual foi proibida qualquer atividade relacionada às bebidas alcoólicas em todo o território.

Como era de se esperar, após quase duas décadas de drástica limitação ao acesso a bebidas alcoólicas a população em geral criou certa sensibilidade a bebidas mais fortes, passando a ter maior afinidade com soft drinks e bebidas de baixo teor alcoólico.





Somando-se a isso e ao declínio das pequenas cervejarias que prezavam pela qualidade, destaca-se o crescimento das grandes corporações que passaram a utilizar adjuntos como milho e arroz ao malte das cervejas para o barateamento de custos. Tal situação se agravou com a intercorrência das duas grandes guerras que limitaram ainda mais a produção de grãos, além de criar um sentimento xenofóbico dos típicos bebedores estado unidenses, o que existe em grande medida até os dias de hoje. Fala-se aqui daquele conhecido senso de patriotismo que em geral acoberta, na verdade, um preconceito contra tudo que não faz parte do american way of life. Imagine como tais sentimentos se materializavam em relação à cultura germânica de produzir cervejas!




Como dito, as grandes guerras limitaram a utilização de grãos nas cervejas, mas para piorar as grandes fábricas afinaram o discurso, até hoje utilizado, inclusive no Brasil, de que a adição de adjuntos como milho e arroz servem para conferir leveza à bebida de forma a se adequar com o novo gosto da população por bebidas mais fracas e refrescantes. Mas uma réplica de cerveja não é completa sem espuma. E para garantir uma espuma mais estável as cervejarias passaram a utilizar sais de cobalto. O único problema é que a ingestão em maiores quantidades dessas cervejas causavam náuseas, vômito e efeitos cardíacos. Lindo não?

Pra finalizar, as cervejarias para aumentar os lucros precisavam produzir mais, todavia a fermentação leva algum tempo mínimo. Mais uma vez a indústria achou uma solução, desenvolvendo um processo de fermentação contínua, em especial na cervejaria Schilitz. Mas o gosto não era bom, pode apostar.

No próximo texto veremos que as grandes cervejarias aperfeiçoaram a técnica de empurrar péssimas cervejas com maciços investimentos em marketing.

Até a próxima, e quando você passar mal por encher a cara, ponha a culpa nos sais de cobalto! 

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Referências:

MOSHER, Randy. Tasting beer. Storey, 2009;
BELTRAMELLI, Mauricio. Cervejas, brejas & birras. São Paulo: Leya, 2012

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