Na
segunda parte da sequência de textos sobre a estandardização das cervejas
chegamos ao período da Lei Seca nos EUA, pela qual foi proibida qualquer
atividade relacionada às bebidas alcoólicas em todo o território.
Como
era de se esperar, após quase duas décadas de drástica limitação ao acesso a
bebidas alcoólicas a população em geral criou certa sensibilidade a bebidas
mais fortes, passando a ter maior afinidade com soft drinks e bebidas de baixo
teor alcoólico.
Somando-se a isso e ao declínio das pequenas
cervejarias que prezavam pela qualidade, destaca-se o crescimento das grandes
corporações que passaram a utilizar adjuntos como milho e arroz ao malte das
cervejas para o barateamento de custos. Tal situação se agravou com a
intercorrência das duas grandes guerras que limitaram ainda mais a produção de
grãos, além de criar um sentimento xenofóbico dos típicos bebedores estado unidenses,
o que existe em grande medida até os dias de hoje. Fala-se aqui daquele conhecido
senso de patriotismo que em geral acoberta, na verdade, um preconceito contra
tudo que não faz parte do american way of
life. Imagine como tais sentimentos se materializavam em relação à cultura
germânica de produzir cervejas!
Como
dito, as grandes guerras limitaram a utilização de grãos nas cervejas, mas para
piorar as grandes fábricas afinaram o discurso, até hoje utilizado, inclusive
no Brasil, de que a adição de adjuntos como milho e arroz servem para conferir
leveza à bebida de forma a se adequar com o novo gosto da população por bebidas
mais fracas e refrescantes. Mas uma réplica de cerveja não é completa sem
espuma. E para garantir uma espuma mais estável as cervejarias passaram a
utilizar sais de cobalto. O único problema é que a ingestão em maiores
quantidades dessas cervejas causavam náuseas, vômito e efeitos cardíacos. Lindo
não?
Pra
finalizar, as cervejarias para aumentar os lucros precisavam produzir mais,
todavia a fermentação leva algum tempo mínimo. Mais uma vez a indústria achou
uma solução, desenvolvendo um processo de fermentação contínua, em especial na
cervejaria Schilitz. Mas o gosto não era bom, pode apostar.
No
próximo texto veremos que as grandes cervejarias aperfeiçoaram a técnica de
empurrar péssimas cervejas com maciços investimentos em marketing.
Até a próxima, e quando você passar mal por encher a cara, ponha a culpa nos sais de cobalto!
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Referências:
MOSHER, Randy. Tasting beer. Storey, 2009;
BELTRAMELLI, Mauricio. Cervejas, brejas & birras. São Paulo: Leya, 2012
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