quarta-feira, 29 de julho de 2015

Cervejaria artesanal, até em que ponto?

Não é de hoje que vemos no mercado exemplos de grandes marcas comprando as pequenas, isso vale também para o universo das cervejas, porem nesse caso, em especial, vimos grandes movimentações de compras nesses últimos meses. As principais e que mais geraram polêmica foram as feitas pela massificada AmBev, adquirindo a cervejaria mineira Wäls e mais recentemente a Colorado de Ribeirão Preto.
Fonte: Jornal RN
No universo do Marketing e do Design nos preocupamos e entendemos os cuidados e o trabalho que as marcas, no caso as cervejarias, têm em criar uma identidade sólida e consistente, com uma história e experiências para seu público. Óbvio que todos querem crescer e ganhar dinheiro com seu negócio, mas a que preço vale se tornar uma gigante conhecida ou então se deixar levar pelo dinheiro e vender a sua cervejaria? Muitas marcas na maioria das vezes se perdem nesse trajeto de crescimento e acabam se deixando levar pela empolgação, ou até mesmo o desespero, deixando de lado parte da sua essência,a qual, querendo ou não, é o charme que atrai o público consumidor desse universo.

Crescer é bom, porém sempre há uma contrapartida, como por exemplo o fato de diminuir a atenção ou ter dificuldade no controle da qualidade dos ingredientes e da produção da cerveja. Por definição, e aqui pego emprestado o texto de outro blog conhecido nosso, as cervejas artesanais são aquelas que “são consideradas pelo  cuidado que têm com sua produção” e “com produções mais restritas (mas não necessariamente pequenas), o que leva a produtos com resultados finais muito interessantes e diversificados.” (Fonte: Brejas)

No mercado vemos alguns exemplos de cervejarias que foram vendidas para outras maiores, sejam elas massificadas ou artesanais, como é o caso da compra da Meantime pela SAB Miller e recentemente da Firestone Walker pela Duvel Moortgat. Por outro lado temos referencias das que resistiram às vendas e resolveram enfrentar o caminho mais difícil, se manterem pequenas e valorizar sua histórias.


Um excelente exemplo de que se deixar levar para o caminho mais fácil nem sempre é a solução,  foi com o que recentemente nos deparamos lendo um artigo sobre a Odell Brewing Company, situada no Colorado. Os fundadores e proprietários venderam a cervejaria para nada mais nada menos que os seus funcionários. Parece estranho mas foi uma maneira inteligente de se manter no mercado e valorizar ainda mais sua história e as pessoas que trabalham duro lá dentro. 



A Stone Brewing é outra que já está firme e forte desde 1996, apesar das tentações e das dificuldades continua “pequena”, com relação a distribuição e acessibilidade, mas possuem uma identidade de marca muito forte e bem característica deles. No próprio site da Stone vemos também a valorização de todos os profissionais envolvidos no processo de “criação” da cerveja, desde a fabricação e coleta de matéria prima até chegar na parte comercial, de vendas e divulgação. 

São esses aspectos e cuidados que estão nas mãos das cervejarias artesanais e são os seus principais diferenciais, de poderem fazer e trazer experiências únicas e feitas com carinho e pensadas em cada detalhe para o consumidor. Portanto fica a questão para a reflexão, até que ponto vale a pena crescer financeiramente e em termos de estrutura e acessibilidade? 


sexta-feira, 17 de julho de 2015

As baratinhas de inverno

O frio chegou e com ele a oferta de cervejas baratinhas "pretas" nas gôndolas dos supermercados. O Loucos por Ales preparou o figado, e como fez com as baratinhas do carnaval, se aventurou por esse mundo um tanto quanto intragável.

Viva a revolução


Vamos aos números:

- Foram 7 as cervejas "degustadas";

- 2 ânsias de vômito;

- quase uma dor de cabeça;

- 7 meias cervejas jogadas ralo abaixo;

- 2 Loucos por Ales extremamente contrariados e;

- 1 noite de cervejas ruins.

Agora, vamos às marvadas:

Schin tipo Munich 4,5% ABV: (lata R$ 2,25) a mais clara entre as disponíveis, de cor marrom avermelhado. Corpo leve e bastante adocicada.

Caracu tipo Stout 5,4%: (lata R$ 2,45) a única que indica levar malte torrado na composição. Na minha lembrança já foi mais amarguinha. Em que pese ser menos doce do que a maioria das concorrentes, ainda é muito para uma stout. Um pouco mais encorpada que a Schin, mais escura e com espuma marrom.

Bohemia Schwarzbier 5%: (lata R$ 2,29) corpo leve, cerveja preta com espuma bastante clara, sumiu depois das duas primeiras, e olha que as anteriores não eram o que se pode chamar de marcantes.

Xingu 4,6%: (lata R$ 3,49) quase tão escura quanto a Caracu, apresenta bastante dulçor, mas é a mais equilibrada de todas. Quase dá para chamar de cerveja.

Petra 4,4%: (long neck R$ 2,29) bastante carbonatação, bem opaca e não temos muito mais a dizer...

Devassa Negra 4,8%: (long neck R$ 3,39) A única que é de alta fermentação (Ale) e que ao contrário das concorrentes, não vai corante caramelo. Na teoria, deveria ser a melhor cerveja. Mas, sinceramente, não se destaca em comparação às demais.

Brahma Malzebier 4%: (long neck R$ 2,29) Essa é nossa conhecida de infância, também lembrada por ser bebida por mulheres no período de amamentação. Queridinha entre as senhoras por ser docinha. Mas bota doce nisso, ela é extremamente enjoativa.

Nota: cheiro de ovo, presença de DMS ou outros defeitos do gênero não foram mencionados porque são a regra nas cervejas experimentadas.

Após bebermos todas essas baratinhas de inverno, podemos dizer que se você acha que as cervejas tipo pilsen de massa são um protótipo de cerveja, as pretas nem poderiam ser enquadradas como uma falsificação de stout ou schwarzebier ou qualquer outro nome que se utilize para definir cervejas. Se pensamos que a tarefa das baratinhas de carnaval foi difícil, não contávamos com o que estava por vir. Essas cervejas não são pretas, são o verdadeiro lado negro da força.


segunda-feira, 13 de julho de 2015

Mais uma cervejaria comprada pela Ambev

Imagem: paladar.estadão.com.br

O maior fato cervejeiro da semana passada foi a compra da cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto, pela Ambev. Sendo esta a segunda abocanhada do ano no Brasil, cinco meses após a Ambev comprar a mineira Wals, todos se perguntam: "Qual será a próxima?"

Vários nomes foram citados pelos interessados no mercado cervejeiro. Façamos uma análise para tentar determinar quais seriam os próximos alvos:

Quais as características comuns entre Wäls e Colorado?




Wäls Colorado
Faturamento anual R$9 milhões

R$18 milhões

Produção mensal 80.000 litros

135.000 litros

Rótulos 21

18

Tradição 15 anos

20 anos


Tanto a Wäls quanto a Colorado possuem projetos internacionais, com rótulos já em fase de exportação. Ambas possuem produção consistente e vasta rede de distribuição no Brasil.


Ao compararmos os perfis de produto Wäls e Colorado, podemos ver que são linhas de cervejas complementares e que não competem entre si.

Ao contrário do que a Ambev declarou sobre estas compras, o que as suas escolhas denotam é que seu objetivo não é o de construir uma cultura cervejeira brasileira, mas sim, de recompor seu domínio no mercado. Note-se que as duas cervejarias adquiridas são, provavelmente, as duas que mais permearam o mercado nacional. Sendo assim, fica cada vez mais difícil comprar cerveja que não seja da Ambev.

Ficou muito claro que a Ambev, com estas aquisições, não tem interesse em comprar receitas de cerveja, cultura cervejeira, o que interessa são fábricas consistentes, tradicionais e com representatividade de mercado. Ou seja, eles compram quem mais incomoda, quem mais tira faturamento deles. A partir daí, fica fácil analisar quais seriam as possíveis novas integrantes do grupo da Bohemia. A partir daqui, não falamos mais em cerveja, falamos em mercado, faturamento, capacidade de produção e do quanto cada uma pode incomodar a Ambev.

Quais as potenciais compras?

Feitas as devidas considerações, vamos à análise mercadológica das possíveis compras:

Nomes que já foram citados em outros sites e por entusiastas do ramo: Bierland, Bodebrown, Waybeer, Coruja, DaDoBier.


Bierland: Cervejaria de qualidade consistente, bem distribuída no mercado e que, apesar do viés tradicionalista, tem valores menos calcados na cultura cervejeira e na qualidade do que no mercado ($). Pelo perfil, pode ser uma boa aposta.

Coruja: Possui clientes devotos e cultura própria, tem boa distribuição e boa capacidade de produção, pode ser uma das escolhidas. 

Do alto de nossas buscas, encontramos uma cervejaria que não foi citada mas possui perfil muito semelhante às duas já adquiridas: a Amazon Beer. Cervejaria com capacidade de produção equivalente às novas integrantes do grupo Bohemia, tem se espalhado rapidamente pelo Brasil e, assim como Colorado e Wäls, já trabalha com projetos de exportação de suas cervejas. Ainda não está tão pulverizada no mercado nacional mas tem capacidade e competência para ganhar sua fatia do bolo.

Bodebrown: A Bodebrown é muito premiada e já fez várias parcerias para cervejas no exterior, mas tem produção acanhada em relação às escolhidas pela Ambev. Caso a busca fosse por qualidade e cultura cervejeira, esta cervejaria escola poderia estar nos planos da gigante monopolista, mas nosso palpite é que não é isso que irá acontecer.

Waybeer: Cervejaria que desponta pela qualidade e variedade de seus rótulos, tem sido bem distribuída e é um dos nomes mais comentados, entretanto ela tem um perfil diferente das duas já adquiridas por produzir muito menos e faturar cerca de um terço do que fatura a Wäls.

DaDoBier: Já é uma gigante do setor, muito mais difícil de ser negociada, com capacidade de produzir 1 milhão de litros por mês e faturamento de mais de R$200 milhões anuais, distribuídos não só em cerveja, mas em pubs, restaurantes e outros empreendimentos.

Com o anúncio da compra da Colorado, a Ambev começou a se posicionar em relação a estas aquisições, demonstrando que está orientada a ganhar mercado, investindo em cervejarias de médio porte, já consolidadas e com poder de mercado significativo.

O que houve no Brasil foi o maior interesse do mercado em consumir cervejas artesanais e, quando isso tomou corpo a ponto de atrapalhar os negócios da gigante, ela teve que reagir. Vale comentar que estas aquisições fazem parte da política mundial da AB Inbev, que em Maio deste ano também comprou a Bogotá Beer Company, maior cervejaria artesanal da Colômbia e deve continuar a comprar cervejarias pelo mundo. Talvez o processo de compras no Brasil não continue tão acelerado e nenhuma outra cervejaria seja comprada nos próximos meses, mas que fique bem claro, estamos falando apenas de negócios e não de cultura cervejeira, qualidade ou qualquer outro valor estimado pelos cervejeiros artesanais. No mundo da Ambev, o que vale são as cifras.


E aí, qual o seu palpite para a próxima aquisição da Ambev no Brasil?


Referência bibliográfica:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_microcervejarias_no_Brasil
http://revistabeerart.com/news/2015/7/12/ambev
http://www.reuters.com/article/2015/07/07/us-ab-inbev-brazil-ambev-idUSKCN0PH1SZ20150707
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