A
ideia de que a boa cerveja é aquela que se aprecia tem se disseminado pelas
mídias televisivas e digitais, e pelos próprios profissionais da área,
inclusive degustadores de cerveja.
A
meu ver, em que pese a boa intenção em criar empatia com todos os níveis de
bebedores, trata-se de um retrocesso no que se refere à busca e reconhecimento
das boas cervejas de verdade.
Mas
então, o que são cervejas boas de verdade, se não aquelas que você aprecia?
Há
quem diga que uma cerveja Sol ou Antarctica sub-zero seja uma boa cerveja e que
sua opinião deva ser respeitada. Eu particularmente, em se tratando de lagers,
prefiro uma Pilsner Urquell.
Todavia,
segundo a máxima de que a cerveja boa é aquela que você gosta, minha escolha
não seria melhor do que a de quem optou por uma sub-zero estupidamente gelada.
Ambos
concordariam em discordar. A boa cerveja seria uma definição meramente
subjetiva, o que é bom pra um pode não ser para outro e ponto final. Eu jamais
convenceria que a pilsen tcheca é melhor que as referidas standard american lager.
Hum...
Levemos a discussão para outra área, e testemos tal premissa.
Tema
que eu aprecio, o cinema. É comum, especialmente em tempos de grandes
lançamentos, discussões acerca de como o filme é bom ou ruim na opinião dos
espectadores.
Mas,
descartando a opinião de conhecidos, de que forma podemos avaliar nosso
interesse em despender dinheiro e tempo para ir ao cinema assistir ao filme em
questão?
Muitos
de nós, com certeza, recorrerão a colunas de jornais e revistas ou mesmo na
internet, em busca de opiniões abalizadas de estudiosos ou cinéfilos.
Sendo
assim, nós admitimos que existem pessoas com maior grau de especialização e
conhecimento sobre a temática cinematográfica, correto? Mesmo que você,
eventualmente, venha a não gostar do filme que foi muito bem cotado por
especialistas, você, ainda que de forma indireta, reconheceu que existe um
grupo de pessoas que detêm um conhecimento mais aprofundado do que a maioria
dos espectadores.
Para
ser mais claro, você pode ser realmente fã do filme Spawn ou Freddy VS Jason,
mas é inegável que esses são péssimos filmes, ainda que sirvam como um bom
passa tempo (para alguns.)
Da
mesma forma, Encontros e Desencontros pode ser um poço sem fim de tédio para um
grande número de pessoas, mas nem por isso tal fato retira a qualidade e sutileza
na abordagem de um tema tão batido como do amor entre um homem e uma mulher –
que inclusive deu o Oscar de melhor roteiro adaptado ao filme dirigido por Sofia
Coppola.
Tudo
isso, para dizer que, da mesma forma, existem opiniões mais objetivas que podem
levar à escolha de uma boa cerveja de verdade, demonstrando que não se trata
apenas de uma questão de gosto.
Por
mais que as pessoas teimem em dizer que a cerveja com tequila, Desperados, seja
muito boa, eu, na minha humilde opinião e conhecimento de cerveja, não posso
admitir tal assertiva como verdadeira, eu diria inclusive que, por pouco, tal
bebida se trata de qualquer outra coisa que não uma cerveja.
Por
outro lado, com o risco de ser pesadamente criticado, eu não sou grande fã da
cerveja DeuS, não me atrai o aroma de manjericão da cerveja, bem como eu a acho
um tanto enjoativa.
Todavia,
até eu sei reconhecer que se trata de uma cerveja de excelente qualidade, sendo
dispensado enorme cuidado em todo processo de produção. Afinal de contas, o que
dizer de uma cerveja que passa pelo processo de champenoise na própria região
de Champangne, além de possuir elevadíssimo teor alcoólico, 11%, sem que se
perceba tal potência, demonstrando o enorme equilíbrio da bebida?
Com
base em tudo isso, fica a campanha, cerveja boa de verdade não é aquela que
qualquer pessoa enaltece como sendo uma boa cerveja e que sua opinião deva ser “respeitada”,
independentemente de critérios objetivos de avaliação.
Pensar
dessa forma é desestimular a utilização de insumos de qualidade em busca da
melhor cerveja possível de se produzir. Esse raciocínio desencoraja, em
especial, micro e pequenas cervejarias, responsáveis, em grande parte, pela
revolução pela qual estamos passando.
Nós
somos seres em constante aperfeiçoamento e nosso paladar não é diferente. Aos
poucos, com treino, qualquer pessoa poderá reconhecer que, sim, existem
cervejas que são melhores, e que essa avaliação não é mera questão de gosto!
Que
me desculpem aqueles que enaltecem as qualidades da Sol ou Antarctica sub-zero,
mas existe muito mais além das prateleiras de grandes mercados.
O Ministério da Saúde adverte: Filosofia pode causar variações de humor e falta de asseio. |
Um
forte abraço Kantiano meus colegas cervejeiros!!
*
Inspirado no texto de Michael P. Lynch, “A verdade sobre a cerveja”
REFERÊNCIAS
HALES,
Steven D. (org.). Cerveja e filosofia.
1. ed. Rio de Janeiro: Tinta negra bazar editorial, 2010.
Mandou muitíssimo bem!
ResponderExcluirValeu Carol, ficamos felizes que tenha gostado! :)
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