quarta-feira, 13 de março de 2013

Questão filosófica: “Cerveja boa é aquela que você gosta”, será?


A ideia de que a boa cerveja é aquela que se aprecia tem se disseminado pelas mídias televisivas e digitais, e pelos próprios profissionais da área, inclusive degustadores de cerveja.

A meu ver, em que pese a boa intenção em criar empatia com todos os níveis de bebedores, trata-se de um retrocesso no que se refere à busca e reconhecimento das boas cervejas de verdade.
Mas então, o que são cervejas boas de verdade, se não aquelas que você aprecia?

Há quem diga que uma cerveja Sol ou Antarctica sub-zero seja uma boa cerveja e que sua opinião deva ser respeitada. Eu particularmente, em se tratando de lagers, prefiro uma Pilsner Urquell.

Todavia, segundo a máxima de que a cerveja boa é aquela que você gosta, minha escolha não seria melhor do que a de quem optou por uma sub-zero estupidamente gelada.

Ambos concordariam em discordar. A boa cerveja seria uma definição meramente subjetiva, o que é bom pra um pode não ser para outro e ponto final. Eu jamais convenceria que a pilsen tcheca é melhor que as referidas standard american lager.

Hum... Levemos a discussão para outra área, e testemos tal premissa.
Tema que eu aprecio, o cinema. É comum, especialmente em tempos de grandes lançamentos, discussões acerca de como o filme é bom ou ruim na opinião dos espectadores.

Mas, descartando a opinião de conhecidos, de que forma podemos avaliar nosso interesse em despender dinheiro e tempo para ir ao cinema assistir ao filme em questão?

Muitos de nós, com certeza, recorrerão a colunas de jornais e revistas ou mesmo na internet, em busca de opiniões abalizadas de estudiosos ou cinéfilos.

Sendo assim, nós admitimos que existem pessoas com maior grau de especialização e conhecimento sobre a temática cinematográfica, correto? Mesmo que você, eventualmente, venha a não gostar do filme que foi muito bem cotado por especialistas, você, ainda que de forma indireta, reconheceu que existe um grupo de pessoas que detêm um conhecimento mais aprofundado do que a maioria dos espectadores.

Para ser mais claro, você pode ser realmente fã do filme Spawn ou Freddy VS Jason, mas é inegável que esses são péssimos filmes, ainda que sirvam como um bom passa tempo (para alguns.)

Da mesma forma, Encontros e Desencontros pode ser um poço sem fim de tédio para um grande número de pessoas, mas nem por isso tal fato retira a qualidade e sutileza na abordagem de um tema tão batido como do amor entre um homem e uma mulher – que inclusive deu o Oscar de melhor roteiro adaptado ao filme dirigido por Sofia Coppola.

Tudo isso, para dizer que, da mesma forma, existem opiniões mais objetivas que podem levar à escolha de uma boa cerveja de verdade, demonstrando que não se trata apenas de uma questão de gosto.

Por mais que as pessoas teimem em dizer que a cerveja com tequila, Desperados, seja muito boa, eu, na minha humilde opinião e conhecimento de cerveja, não posso admitir tal assertiva como verdadeira, eu diria inclusive que, por pouco, tal bebida se trata de qualquer outra coisa que não uma cerveja.

Por outro lado, com o risco de ser pesadamente criticado, eu não sou grande fã da cerveja DeuS, não me atrai o aroma de manjericão da cerveja, bem como eu a acho um tanto enjoativa.

Todavia, até eu sei reconhecer que se trata de uma cerveja de excelente qualidade, sendo dispensado enorme cuidado em todo processo de produção. Afinal de contas, o que dizer de uma cerveja que passa pelo processo de champenoise na própria região de Champangne, além de possuir elevadíssimo teor alcoólico, 11%, sem que se perceba tal potência, demonstrando o enorme equilíbrio da bebida?

Com base em tudo isso, fica a campanha, cerveja boa de verdade não é aquela que qualquer pessoa enaltece como sendo uma boa cerveja e que sua opinião deva ser “respeitada”, independentemente de critérios objetivos de avaliação.

Pensar dessa forma é desestimular a utilização de insumos de qualidade em busca da melhor cerveja possível de se produzir. Esse raciocínio desencoraja, em especial, micro e pequenas cervejarias, responsáveis, em grande parte, pela revolução pela qual estamos passando.

Nós somos seres em constante aperfeiçoamento e nosso paladar não é diferente. Aos poucos, com treino, qualquer pessoa poderá reconhecer que, sim, existem cervejas que são melhores, e que essa avaliação não é mera questão de gosto!

Que me desculpem aqueles que enaltecem as qualidades da Sol ou Antarctica sub-zero, mas existe muito mais além das prateleiras de grandes mercados.
O Ministério da Saúde adverte: Filosofia pode causar
variações de humor e falta de asseio.

Um forte abraço Kantiano meus colegas cervejeiros!!

* Inspirado no texto de Michael P. Lynch, “A verdade sobre a cerveja”

REFERÊNCIAS

HALES, Steven D. (org.). Cerveja e filosofia. 1. ed. Rio de Janeiro: Tinta negra bazar editorial, 2010.

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